quinta-feira, 19 de outubro de 2017

A ração humana de Doria: o que tem a ver cultura e identidade com alimentação?


Renata Tomaz do Amaral RibeiroBacharela em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência nas áreas da antropologia da alimentação e antropologia urbana, da memória e da imagem, atuando principalmente nos seguintes temas: cultura e alimentação, memória, meio ambiente, saberes e práticas sobre PANCs.










A ração humana de Doria: o que tem a ver cultura e identidade com alimentação?
Renata Tomaz do Amaral Ribeiro



            João Doria diz: “Pobre não tem hábito alimentar, pobre tem fome.”

Doria e a sua politica liberal estão desumanizando as pessoas!

         Como assim pobre não tem hábito alimentar? Se fosse possível resolver o problema da fome com soluções meramente nutricionais (só que NÃO é), poderia existir mais divulgação e fortes campanhas incentivando o cultivo e o consumo de Plantas Alimentícias não Convencionais - PANC, por exemplo. Deveriam haver oficinas e campanhas nas periferias para o aproveitamento de caules e folhas que normalmente são descartadas. Isso para não falar, que no Brasil NÃO HÁ ESCASSEZ DE ALIMENTO; se produz muito, mas nem todo mundo tem acesso.

O fato é que o problema da fome não é uma questão restritamente biológica, mas especialmente política e cultural. No caso em questão, não existe preocupação alguma com segurança alimentar, há, porém o evidente interesse do governo Doria de repassar ou isentar um valor substancial a mais uma empresa mafiosa. 

         Não apenas isto, esta é uma politica de desumanização da população pobre. Pessoas em situação de vulnerabilidade social devem ter sua cidadania e direitos garantidos. E isso inclui fundamentalmente uma alimentação nutritiva e que faça parte do imaginário coletivo da nossa sociedade. Feijão com Arroz, polenta com ovo frito, aipim na panela de ferro, purê de batata inglesa, batata-doce no forno, são alguns dos tantos pratos comuns no cotidiano do brasileiro. A comida guarda e revela identidades, visões de mundo, tradições… E consequentemente, ela nutri o corpo e a alma. E por mais que muita gente não acredite pobre é ser humano, além de nutrientes também precisa se alimentar de simbologia.

Obviamente que eu, que estudo as PANC, acho lindo que existam mais e mais pesquisas, campanhas e oficinas que divulguem e incentivem o consumo destas plantas. Todavia, para tanto é necessário que as politicas públicas estabelecidas levem em consideração as representações simbólicas e sociais de cada grupo, para que estas plantas sejam inseridas nos pratos cotidianos e típicos, respeitando a cultura e a identidade destes indivíduos. Esta seria uma das tantas opções melhores do que a ração humana do Doria!

Referências:

DA MATTA, Roberto. Sobre o simbolismo da comida no Brasil. O Correio da Unesco, Rio de Janeiro, v. 15.
FISCHLER, Claude. Las funciones de lo culinario. In: El ( h )omnívoro: el gusto, la cocina y el cuerpo. Barcelona: Anagrama, 1995.
GARINE, Igor de. Alimentação, culturas e sociedades. O Correio da Unesco, Rio de Janeiro, v. 15, 1987.
MACIEL, Maria Eunice. Cultura e alimentação ou o que tem a ver os macaquinhos de Koshima com Brillat-Savarin? Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 7. 2001.

MENASCHE, Renata; ALVAREZ, Marcelo; COLLAÇO, Janine. Alimentação e cultura em suas múltiplas dimensões. In: ________ (Org.). Dimensões socioculturais da alimentação. Diálogos latino-americanos. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2012.


MINTZ, Sidney W. Comida e antropologia: uma breve revisão. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 16, 2001.

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